Município de Caieiras

O Patrono: Coronel Antônio Proost Rodovalho

Figura de destaque do cenário brasileiro do fim do século 19, Rodovalho era, ele próprio, o empreendedor paulistano que mais interesse tinha em ver o potencial produtivo da região prosperar e estava comprometido com o processo de industrialização do País. Como diz o historiador Hernani Donato, "não havia em São Paulo empreendimento que o dispensasse".

A São Paulo do fim do século 19 era uma próspera província com 121 estabelecimentos fabris com motores movidos a gás e petróleo, 5.670 operários e pouco mais de 100 mil habitantes. A economia local era quase totalmente ligada às crises e avanços da lavoura cafeeira. Na medida em que aumentavam as exportações, mais prosperavam o comércio e o setor financeiro. Os negócios atraíam as pessoas e havia grande necessidade de obras e investimentos públicos.

Atento a tudo isso, Rodovalho enxergava as oportunidades que esse crescimento representava. Nascido em 27 de janeiro de 1838, em São Paulo, Antônio Proost Rodovalho começou a trabalhar cedo. Aos 13 anos, já atuava no comércio. Aos 25, era sócio de companhias atacadistas de café, açúcar e sal em São Paulo, Santos e Campinas, e já fazia negócios de importação e exportação.

Em 1875, quando o problema de abastecimento de água da cidade já havia se tornado insustentável e era debatido nos jornais, o empresário investiu na Companhia Cantareira de Águas e Esgotos, que daria origem à Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).

O primeiro presidente da Associação Comercial contava com um grande prestígio: foi vereador diversas vezes, tesoureiro da Santa Casa de Misericórdia e alcançou o grau 33 na Loja Maçônica Capitular Amizade. Republicano convicto, alinhado ao Partido Republicano Paulista, o empresário também havia apoiado as investidas do Exército Brasileiro durante a Guerra do Paraguai (1864 - 1870), o que lhe rendeu, em 1868, o título de coronel.

Um dos anos mais emblemáticos das atividades empresariais de Rodovalho foi o de 1877. Em terras de sua propriedade, às margens do rio Juquery, o coronel havia verificado a existência de minerais ricos em carbonato de cálcio. Foi neste ano que começou a construir os dois fornos da propriedade para produzir cal. A fazenda Caieiras também produzia cimento, louça e abrigava uma serraria. Imigrantes italianos, anteriormente empregados na agricultura, foram fixados no local e 180 casas foram erguidas para os futuros funcionários da indústria. Eram as primeiras moradias para trabalhadores livres no País. Mas a cal era distribuída por um processo arcaico. Os sacos eram levados em lombo de mula da fazenda para a estação Perus da São Paulo Railway (SPR), conhecida na época como "a Inglesa" e que foi a primeira estrada de ferro em solo paulista.

Com esforço e lançando mão de seu prestígio como empreendedor, Rodovalho conseguiu fazer uma sociedade com os investidores ingleses da São Paulo Railway e fez construir uma parada para os trens em Caieiras, que começou a operar em 1883, agilizando a distribuição de cal. Enquanto buscava melhorias para a fazenda, em outras terras Rodovalho gerenciava uma cerâmica que, anos depois, em 1886, chegaria a produzir entre 6.000 e 7.000 tijolos e 5.000 telhas por dia.

Em 1887, com a Cantareira em operação, Rodovalho percebeu que São Paulo e os municípios vizinhos careciam não apenas de água, mas também de papel. Na época, existiam duas fábricas de papel no estado, em Salto e Osasco. A produção, entretanto, era insuficiente para atender a demanda que crescia, especialmente pelo desenvolvimento da imprensa e do comércio.

Em 1889, o coronel Rodovalho trouxe técnicos alemães para montar, na fazenda Caieiras, as máquinas que impulsionariam a produção de papel. No ano seguinte, o coronel adquiriu a Companhia Melhoramentos de São Paulo que, na época, atuava em vários setores industriais. A idéia de uma companhia engajada no processo de crescimento da cidade e voltada à produção de papel, material para construção e importação de equipamentos que trouxessem melhorias urbanísticas está relacionada não apenas ao nome escolhido para a empresa, mas também à filosofia de negócios defendida por Rodovalho. A Melhoramentos iniciou as atividades com 230 operários e produzia, nos primeiros anos, 40 metros de papel por minuto, seis toneladas por dia e uma variedade de tipos que ia do papel de seda ao papelão.

Com as indústrias em funcionamento, Rodovalho tinha ainda um desafio: transportar os produtos. A Melhoramentos operava em ritmo contínuo e era preciso encontrar um modo de escoar o papel. Na época, os trens era usados preferencialmente para o transporte de café e os exportadores do produto, na maioria europeus, tinham o apoio dos ingleses para dominar os fretes. Assim, por anos, a fábrica de papel teve dificuldades em embarcar o produto e só em 1897 definiu-se a construção de uma estação em Caieiras.

os negócios de Rodovalho entravam em declínio na Fazenda Caieiras. Em 1895, uma enchente arruinou 311 toneladas de papel produzido. Como todos os empresários paulistas, Rodovalho era também afetado pela crise do setor cafeeiro na última década do século. Seus empreendimentos contavam com acionistas do setor que, em dificuldades, pouco puderam contribuir para o desenvolvimento das indústrias que ele empreendera, especialmente a Companhia Melhoramentos que, embora moderna e produtiva, precisava de injeção de recursos.

Os anos de 1898 a 1900 foram particularmente difíceis para Rodovalho, especialmente porque o andamento dos negócios se chocava com seu caráter de empresário arrojado. Na Fazenda Caieiras, a produção de papel estava em uma fase ruim e, após os empréstimos obtidos junto ao Banco de Depósitos e Descontos do Rio, o empresário não teve outra alternativa a não ser vender o empreendimento.

Pouco depois, em abril de 1900, ele deixou a diretoria da Melhoramentos e decidiu concentrar seu esforços em outros negócios, como a Rodovalho Júnior & Cia até sua morte, em 30 de dezembro de 1913.

Apesar de não ter construído uma grande fortuna, Rodovalho movimentou uma quantidade enorme de recursos em todas as atividades que empreendeu e abriu o caminho para companhias que viriam a prosperar no século 20.

Um exemplo disso é a própria Melhoramentos que, em 1906, se juntou ao parque gráfico instalado pelos Irmãos Weiszflog, na rua Líbero Badaró. A partir daí, a companhia foi modernizada, passou a operar também no segmento editorial e se tornou uma das maiores empresas brasileiras dos dois setores.

O progresso: Irmãos Weiszflog

Enquanto Rodovalho tocava o seu projeto na Melhoramentos, na Alemanha, os Weiszflog almejam dias melhores. Pensando assim dois deles, Otto e Alfried resolvem partir em busca do sucesso. O Brasil é o país escolhido e, dentro do Brasil, o novo El Dorado chama-se São Paulo. Otto chega em 1894. Semanas depois está trabalhando no estabelecimento do conterrâneo Bühnaeds, um negócio no ramo de papelaria, encadernação, livros em branco e importação de papel. Dois anos mais tarde é a vez de Alfried desembarcar no Brasil. Ele chega com um recado do pai, Wilhelm: "Façam alguma coisa que seja única, em que não tenham concorrência" .

Seguindo os conselhos do pai, os irmãos Weiszflog associam-se a Bühnaeds. Em 1905, adoentado e sem forças, Bühnaeds deixa a sociedade nasce então a Weiszflog Irmãos - Estabelecimento Gráfico. Os serviços da gráfica dos Weiszflog ganha rápido reconhecimento devido à qualidade superior dos seus produtos. Percebendo isso, o educador Arnaldo de Oliveira Barreto sugere aos Weiszflog que se tornem também editores. A sugestão é aceita.

Já na condição de editores os Weiszflog produzem em 1915 aquele que seria um marco da literatura infantil brasileira. O livro O Patinho Feio , de Hans Christian Andersen - com ilustrações de Franz Richter é o primeiro no Brasil editado a quatro cores - até então só se conhecia o preto-e-o-branco.

Ao mesmo tempo a Cia. Melhoramentos de São Paulo, que manda imprimir com os Weiszflog seu relatório anual, passa por sérias dificuldades financeiras, agravadas durante os anos da Primeira Guerra Mundial. Antonio Rodovalho deixa a empresa, e os seus novos donos só vêem uma saída: vender a Melhoramentos.

Os Weiszflog já produzem, editam e comercializam seus próprios livros, falta que eles produzam o papel. Não falta mais. Em abril de 1920 a Melhoramentos é comprada e em dezembro incorpora a Weiszflog Irmãos - Estabelecimento Gráfico. Nasce também um slogan que durante muitos anos acompanha os livros da editora: "do pinheiro ao livro - uma realização Melhoramentos.

Nas mãos dos Weiszflog a Melhoramentos cresce e aparece. Em 1946 um feito de repercussão mundial. Os técnicos da empresa produzem celulose a partir do eucalipto. Um ano mais tarde a celulose de eucalipto atinge alto padrão e torna-se boa para a confecção de papéis nobres (seda, crepo) e para impressão. "A utilização de celulose de eucalipto na produção de papel para imprimir representa a maior contribuição brasileira para a indústria papeleira" , diz na época o já respeitado Pietro Maria Bardi.

A emancipação

A dificuldade da prefeitura de Parnaíba em conseguir atender aos constantes pedidos dos administradores da Melhoramentos, por anos seguidos, inclusive às ocorrências policiais, que tinham de ser registradas e apuradas na sede do município, de difícil acesso devido às precárias estradas da região, levou à desagregação de boa parte da área ocupada pela fábrica, no ano de 1934, e à integração deste território ao município de Juqueri (atual Mairiporã). Da anexação surgiu, com nova divisão distrital, desta vez em Juqueri e em São Paulo, o município de Franco da Rocha. A estação de Caieiras e a Melhoramentos estavam agora em Juqueri, mas subordinados ao distrito de Franco da Rocha. Posteriormente, em 1944, Franco da Rocha desmembra-se como município, levando Caieiras, cuja área central do povoado havia se desenvolvido a leste da estação.

Finalmente, Caieiras tornou-se município em 1958, quando se emancipou de Franco da Rocha.

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