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Fanfarra de Caieiras – a criação
Em 1969, o professor de matemática Zilton Bicudo, natural de São Paulo e criado em Franco da Rocha, passou a lecionar matemática no Colégio Walther Weiszflog em Caieiras. Coincidentemente, nessa mesma época, a escola recebeu do Governo do Estado de São Paulo um kit com instrumentos para fanfarra.
Zilton, filho de maestro, durante toda sua juventude teve contato com instrumentos musicais e teoria musical, aproveitou a oportunidade para organizar uma fanfarra na escola. Não existem registros exatos de quando os ensaios começaram, mas o grande marco do inicio dessa empreitada cultural foi o desfile de 7 de setembro de 1970, em Caieiras. Nesse dia a Fanfarra do Colégio Walther Weiszflog se apresentou, assim como outras corporações musicais da região. Entretanto, o locutor do evento não mencionou a presença da fanfarra, apenas exaltando as qualidades das outras corporações.
Os componentes se recolheram a escola pelos fundos. Estavam muito tristes por terem sido desprezados e desvalorizados. Nesse momento, Zilton Bicudo fez valer o talento nato que possuía para liderar: conclamou seus alunos a superarem esse percalço e perguntou quem prosseguiria com ele para formar a melhor fanfarra do Brasil. Todos aceitaram o desafio! E a data de fundação da corporação passou a ser considerada como agosto de 1970.
Fanfarra de Caieiras – primeiros passos
Devido ao fato de ser a pioneira como um projeto estruturado de fanfarra em nossa cidade, teve de enfrentar inúmeras dificuldades até sua estruturação definitiva. Sendo uma corporação constituída por adolescentes estudantes, lutou muito para conseguir o crédito e a confiança de todos que a viram nascer. Prova disso é que o uniforme utilizado era confeccionado e custeado pelos próprios pais dos alunos. Além disso, nas suas primeiras apresentações fora de Caieiras, os próprios componentes da Fanfarra arcavam com as despesas de condução e lanches.
Diante disso, os alunos não se impressionavam com as dificuldades que apareciam. Muito pelo contrário, a vontade de vencer e a garra cresciam à medida que as dificuldades aumentavam. Nos três primeiros anos a Fanfarra realizou inúmeras apresentações, adquirindo assim maturidade e personalidade, fatores que começaram a chamar a atenção de todos sobre a corporação.
Em agosto de 1971 foi organizada a primeira diretoria da fanfarra:
Presidente: Prof. Zilton Bicudo;
Vice-Presidente: Luiz Carlos Lucietto;
1ª Secretária: Maria Emilia Fernandes Grecco;
2ª Secretária: Márcia Maria Dell Porto;
1ª Tesoureira: Inailda Bicudo;
2º Teroureiro: Mauricio de Oliveira.
Mais tarde, alguns pais de alunos viriam a participar da diretoria, dentre os quais: Sr. Arnaldo dos Santos; Sra. Antonieta Baboin dos Santos, Sra. Luiza Rodrigues Gil, Sr. Assis Crema, prof. José Branco Zuglian, Sra. Shirley M. Zuglian, Sr. Antonio Masiviero, Sr. Luiz Spigarollo, Sra. Maria Spigarollo e Diná Crema Bicudo.
Em outubro de 1973 a Prefeitura cedia pela primeira vez dois ônibus para conduzir a Fanfarra ao Município de Guarulhos, onde iriam participar também pela primeira vez de um concurso oficial que contaria com 25 fanfarras de todo o Estado. Com muita humildade, uniforme simples, porém encarando com grande seriedade a responsabilidade de representar oficialmente o Município de Caieiras, os jovens alunos receberam a recompensa dos seus esforços conquistando um honroso terceiro lugar. A partir daí as portas se abriram!
Fanfarra de Caieiras – a conjunção dos astros.
Após as primeiras conquistas, as autoridades municipais passaram a dar um apoio mais intenso: as primeiras verbas surgiram e foi confeccionado o primeiro uniforme de gala da Fanfarra. Ao mesmo tempo o número de componentes cresceu, e sob a regência de Zilton Bicudo, com a direção musical de José Branco Zuglian e a participação técnico-musical do maestro Sergio Valbuza os músicos se aperfeiçoaram e o caminho foi aberto: a Fanfarra Marcial Mista Simples da Escola Walther Weiszflog, mais conhecida como Fanfarra de Caieiras, passou a levar o nome do município por onde quer que fosse sempre estando entre as campeãs, com um trabalho marcado pela inovação, qualidade e disciplina, chegando a ultrapassar as fronteiras do Estado de São Paulo e alcançando todo território nacional.
Mais tarde, outras peças importantes apareceram no grupo, como foi o caso do músico Antonio Carlos Lopes Júnior, hoje trompetista da OSESP, que entrou na Fanfarra em 1973, aprimorou seus estudos em trompete, e passou a também fazer arranjos musicais, inclusive composições próprias executadas exclusivamente pela fanfarra, o que deixou a mesma em grande vantagem em relação às outras corporações.
Quem também fez grande diferença no trabalho da fanfarra foi a Prof.ª Solange Dartora, que passou ensaiar e montar as coreografias das balizas e linha de frente, melhorando em 100% o desempenho do grupo. E falando em balizas, não podemos deixar de mencionar Gabriela P. Marques, que entrou aos 8 anos na fanfarra, mais tarde passou a ser chamada de baliza nota 10 e tornou-se instrutora das demais balizas.
Apesar de ter sido apelidada de “o rolo compressor”, o termo certo para definir a Fanfarra de Caieiras seria “a conjunção dos astros”, pois naquele local, naquele instante estavam presentes: os melhores instrutores, mencionados acima; componentes maravilhosos, que amavam a Fanfarra e se dedicavam com força, carinho, respeito e disciplina; pais que incentivavam e valorizavam o trabalho da Fanfarra; e todos eles sob o comando de um grande professor, um grande pai, um grande líder, um grande homem que era Zilton Bicudo.
A partir de 1973 a Fanfarra de Caieiras realmente galgou um caminho ao apogeu, pois simplesmente de 1988 a 1997 não perdeu um concurso sequer, estando sempre com as melhores pontuações, obtendo notas superiores às das bandas marciais, que possuem instrumentos mais elaborados. Foi intitulada com louvou como a Melhor Fanfarra do Brasil. De fato, nesse período, aqui em Caieiras, houve uma “conjunção dos astros”.
Paralela a da Fanfarra, outra história começou a se desenrolar: o COFABAN (Concurso de Fanfarras e Bandas) da Cidade de Caieiras. Criado em 1975 por iniciativa do prof. Zilton com o apoio dos integrantes da fanfarra, o primeiro Concurso Cidade dos Pinheirais contou com 46 participantes que se apresentaram em um só dia. A partir daí, o evento conheceu um crescimento vertiginoso – 5% a cada ano. A sua 20ª edição, realizada em 1997, precisou ser dividida em 4 dias (um para cada categoria – Fanfarras Simples, Fanfarras com 1 pisto, Bandas Marciais e Bandas Musicais) e teve mais de 100 corporações inscritas.
Fanfarra de Caieiras – o enfraquecimento
Em 21 junho de 1997, sábado, às vésperas do 8º Campeonato de Fanfarras e Bandas do Estado de São Paulo, no anfiteatro da Escola Estadual Walther Weiszflog, os componentes da Fanfarra de Caieiras estavam reunidos para a chamada e avisos como acontecia em todos os finais de ensaio.
Todos estavam na expectativa para o dia seguinte, quando iriam novamente representar a cidade de Caieiras num concurso. Só não esperavam que, ao invés de ouvir apenas as belas palavras de incentivo do prof. Zilton, também receberiam uma notícia absurda: estavam sendo despejados da escola, pois o delegado de ensino, prof. Damito, iria utilizar a sala onde a Fanfarra guardava seus pertences para fazer uma sala de informática (que, a propósito, nunca foi montada).
No dia seguinte, a Fanfarra cumpriu o papel e novamente levou o título de campeã para a cidade de Caieiras. Ao final da apresentação os componentes tentavam chorar de alegria pelo ótimo desempenho, mas não havia lágrimas: todas já haviam sido derramadas no dia anterior.
O entrave enfraqueceu a corporação, pois mesmo com opções para escolher uma nova sede, muitos membros acabaram por desistir da luta. A Fanfarra quase se extinguiu, não fosse a garra de Zilton Bicudo e dos componentes que permaneceram ao seu lado.
A Cia Melhoramentos de Papéis cedeu um dos seus galpões para armazenar troféus, instrumentos, uniformes e outros materiais da Fanfarra e a Escola Estadual Prof. Joaquim Osório de Azevedo colocou suas dependências a disposição para os ensaios.
Até mesmo o tradicional COFABAN da cidade foi extinto depois de 20 edições ininterruptas.
A Fanfarra Marcial Mista Simples da EEPSG Walther Weiszflog passou a se chamar Fanfarra Marcial Mista Simples Walther Weiszflog de Caieiras.
Em 1998 a Prefeitura de Caieiras construiu ao lado da referida escola, num terreno da prefeitura, um prédio destinado a ser a Sede da Fanfarra de Caieiras, com salas para armazenar os troféus, uniformes e instrumentos.
Mesmo assim, a Fanfarra continuou sofrendo baixas em seu contingente, chegando a ensaiar com apenas 15 pessoas no corpo musical. A corporação não participava mais de concursos.
Apesar de todas as adversidades, com liderança impar o prof. Zilton continuou a batalha pela reestruturação de um grupo de vencedores, e em maio de 2001 o brilho voltou a fazer parte dessa história, quando no 5º Festival de Fanfarras e Bandas de Cidade Ademar, em São Paulo, a fanfarra voltou às pistas e conquistou o 1º lugar daquela competição.
Fanfarra de Caieiras – uma tragédia
Após essa nova conquista que empolgou a todos, começou um grande projeto para recolocar a Fanfarra de Caieiras entre as campeãs: o prof. José Branco Zuglian foi convidado novamente para auxiliar na direção musical, novos alunos entraram na corporação e o método de ensino foi alterado para acelerar o processo de aprendizagem dos instrumentos.
A Fanfarra estava grande e bonita novamente!
Entretanto, algo incomensuravelmente triste aconteceu: na manhã do dia 22 de agosto de 2001, quarta-feira, um trágico acidente no quilometro 38 da rodovia Luiz Salomão Chamma, via de ligação entre as cidades de Caieiras e Franco da Rocha, tirou a vida do educador e maestro Zilton Bicudo. Ele, que sempre esteve à frente da Fanfarra, durante 31 anos, encorajando, aconselhando, educando, não estaria mais ali. O que seria da Fanfarra de Caieiras sem o seu criador e mentor? Com certeza mais obstáculos viriam pela frente e o pilar principal não estaria ali para sustentá-la.
Fanfarra de Caieiras – período de transição
Após a morte do prof. Zilton Bicudo, vários componentes que haviam saído da fanfarra voltaram a participar. A corporação continuava grande e a Diretoria da época se esforçava para manter as mesmas diretrizes que vinham permeando o trabalho. Alguns desentendimentos internos ocorreram, mas a força deixada pelo querido mestre fez com que tudo fosse superado.
O maestro da Orquestra Filarmônica Melhoramentos de Caieiras, Luiz Crema, assumiu os ensaios provisoriamente durante alguns meses, até que em 2002 o ex-componente da Fanfarra de Caieiras, Marcelo Menegatti, na época maestro da Fanfarra de Monte Mor, passou a ser o novo líder da fanfarra. Ele, que havia aprendido com o Zilton Bicudo como estar à frente de uma corporação, levou novamente a fanfarra a participar de concursos.
Nesse ano a fanfarra participou do 2º Campeonato Paulista, realizado em Ribeirão Preto, conquistando o 3º lugar, e do Concurso de Fanfarras e Bandas de Cristais Paulistas, onde levou o troféu de 2º lugar no quesito Corpo Musical e 1º lugar no quesito Baliza. Parecia que finalmente tudo voltaria ao normal.
Entretanto, devido à distância entre Monte Mor e Caieiras, o maestro Marcelo Menegatti não pode mais vir aos ensaios a partir de 2003. Isso causou novas mudanças na estrutura da Fanfarra de Caieiras, tentando-se até transformá-la em banda marcial, o que não deu certo, causando novamente a saída de vários componente. A diretoria da época não se mostrava disposta a continuar com a fanfarra e no início do ano de 2004, após uma reunião, por alguns instantes a Fanfarra de Caieiras quase deixou de existir.
Fanfarra de Caieiras – a retomada
Assistindo o desenrolar de todos aqueles fatos, vendo os 34 anos da grande história da Fanfarra de Caieiras acabarem debaixo de seus olhos, quatro instrutores da corporação resolveram que não deixariam isso acontecer.
Renato Masiviero, Célia Bitencourt, Marcelo Ribeiro e Camila Bianchini se uniram para reestruturar novamente o grupo. Convidaram novamente José Branco Zuglian para auxiliar na direção musical, Ana Paula Balliego para organizar os uniformes e os demais diretores eleitos que ainda se interessavam pelas atividades da fanfarra para constituir uma nova diretoria.
Alguns alunos voltaram a participar quando souberam que a corporação era novamente uma fanfarra, e uma grande força tarefa foi elaborada para a formação de novos componentes e para a divulgação das atividades.
Núcleos de ensino foram montados em diversos bairros da cidade: Vila Rosina, Jardim dos Pinheiros, Vila Miraval e Laranjeiras, consolidando um projeto com cunho mais social, para beneficiar o maior número possível de crianças e jovens da cidade, principalmente os que mais precisavam ter acesso a cultura, educação, atenção e diversão.
Toda a documentação da Associação Amigos da Fanfarra de Caieiras foi regularizada, possibilitando a inscrição da mesma no Conselho Municipal de Assistência Social, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e no Conselho Nacional de Assistência Social.
A Fanfarra de Caieiras voltou a ter uma escola de música funcional e um ótimo grupo de apresentação, novamente com componentes dedicados, unidos, que amam o que fazem e reconhecem a importância da corporação para a cidade, e vice-versa.
Em 2007 o grupo voltou a se apresentar em outros municípios, participando de eventos na cidade de Pirapora do Bom Jesus e no Bairro da Freguesia do Ó em São Paulo.
No mês de setembro de 2007 veio o grande desafio: participar de um concurso, com um grupo totalmente novo. A Fanfarra de Caieiras chegou em número menor do que nos anos áureos, mas a garra, o amor, a determinação e a emoção com certeza eram iguais! Novamente, os esforços foram recompensados: 1º lugar no quesito Corpo Musical, 2º lugar no quesito Linha de Frente e 3º lugar no quesito baliza.
Atualmente, a Fanfarra de Caieiras conta com cerca de 200 alunos, dentre os quais 90 são selecionados para compor o grupo de apresentação. Assim como há anos atrás, todos continuam empenhados nos mesmos objetivos: formar cidadãos, levar o nome da cidade de Caieiras como potência cultural, e nunca se esquecer da “confissão da Fanfarra”, criada pelo querido professor e maestro Zilton Bicudo:
“Eu estou aqui, com vocês
por que acredito, do fundo do meu coração,
em nosso trabalho.
“Eu participo com vocês
por que acredito que poderemos construir alguma coisa boa
com a ajuda de cada um
“A dedicação, o respeito, a vontade, o amor, a garra
me mantêm aqui e me permitem afirmar com toda a minha força:
O WALTHER UNIDO JAMAIS SERÁ VENCIDO”